Para chegar ao Camp Poincenot (junto ao Fitz Roy) saindo do Camp DeAgostini (junto à Laguna Torre), é necessário fazer o mesmo trajecto que fizemos para chegar à Laguna Torre no sentido inverso durante aproximadamente 4km, e depois virar/subir à esquerda, pelo trilho das Lagunas Madre e Hija.
A subida em direcção às lagoas é bem longa, as mochilas pesam e pelo caminho vamos pensando que não admira que só passem pessoas em sentido contrário.
De pernas pesadas mas espírito alegre continuamos e congratulamo-nos por notar que o clima vai melhorando assim que saímos da alçada do glaciar que está sob o Cerro Torre.
O Sol brilha e até faz algum calor, mas é calor como em “conseguimos despir o casaco quando está Sol”, porque na prática continua bastante frio e o vento é gelado.
Junto às Lagunas Madre e Hija esse vento levanta-se impetuoso e irrita a água que nos respinga, mas o caminho torna-se mais plano, menos cansativo e assim começo a prestar mais atenção aos detalhes da vegetação, cores e texturas que me rodeiam.
É um passeio delicioso beijado pelo Sol.
Montamos a tenda no Camp Poincenot, que tal como o Camp DeAgostini é grátis e por isso básico. Mas ao contrário do Camp DeAgostini, que estava vazio e nós praticamente sozinhos, o Camp Poincenot está bastante composto quando chegamos, passando a apinhado tipo festival de verão, com o passar das horas.
Para além do ocasional viajante solitário, e dos vários casais, chegam também vários grupos numerosos com guias, ultra equipados e preparados, e vários bandos coloridos de gap year kids, barulhentos e especialistas em tropeçar nas tendas alheias.
No Camp Poincenot, estamos claramente muito perto da zona de maior interesse e convergência do Parque.
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Mental Note 3: Não pensar, em momento algum, que no fim de Fevereiro se viaja “sozinho” na Patagónia.
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Ao pôr do sol, noto um reboliço anormal fora das tendas, ouvem-se várias línguas ao mesmo tempo, mais entusiasmadas, espreito e vejo pessoas a pegarem nas máquinas fotográficas, iPads, telemóveis e a apressarem o passo.
Saio da tenda, curiosa, e é como se levasse uma chapada visual da montanha.
Um momento que nunca esquecerei.
Avisto pela primeira vez o pico Fitz Roy, em contra-luz, envolto na bruma, qual aparição.
“É gigante e está mesmo aqui…”
Ainda não me tinha apercebido de como estava tão perto.
Ainda não me tinha apercebido de como estava tão perto.
Passamos o resto da tarde sem conseguir desviar os olhos da montanha, a apreciar cada movimento da neblina, mudança de sombra ou luz. Estamos hipnotizados.
Os índios Tehuelche, que viviam na Patagónia há centenas de anos, chamavam a esta montanha Chalten, que quer dizer montanha de fogo ou montanha fumegante.
Não conseguiria pensar num nome melhor.
Dados (aproximados): distância: 11km | duração: 5h | desnível total: 480m(up) 250m(down)